16 de abril de 2009

Ovinhos de Páscoa

As férias da Páscoa nunca tinham grande piada. Toda a malta minimamente interessante saia para fora, uns para casa do avós, outros de mini-férias ali até Espanha.

O ano de 1989 nesse aspecto não foi diferente. Ficou na aldeia apenas meia dúzia de gente. Eu, o meu padrinho Carlos, o Black, o Bruno, o Pedro e o Fernando.
Aborrecidos de morte, sem nada para fazer, que nem para um joguito de futebol tínhamos gente suficiente, passava-mos os dias a vagabundear pelas ruas quando não chovia ou a jogar ás cartas em casa de um ou de outro.

O meu padrinho e o Black nem sempre alinhavam nos jogos das cartas, afinal sempre tinham mais de fazer. Quando estávamos todos juntos, a malta mandava umas bocas foleiras mas eles faziam-se de desentendidos, quem não percebia mesmo nada era o Fernando que desde aquela aventura astronómica nunca mais tinha tido coragem de me olhar olhos nos olhos. Mas eu estava determinado em mudar isso.

Ao fim do quarto dia de férias, o Carlos e o Black desapareceram, ninguém os viu durante dois dias inteirinhos. Quando voltaram, voltaram com uma na manga. Tinham preparado uma festa. Uma festa temática, assim cada um de nós teria de convencer os pais a deixar-nos passar a noite fora em casa do Carlos para uma "Caçada aos ovos". Eles já tinham tudo preparado e ficamos todos entusiasmados, embora no fundo fosse coisa de putos sempre era algo para agitar o marasmo daqueles dias.

Assim, naquela noite de Sexta-feira Santa lá nos dirigimos todos a casa do Carlos munidos de cestinhas quais menininhas para a tal "Caçada". Para minha surpresa fui o segundo a chegar, para alem dos anfitriões Carlos e Black, já lá estava o Fernando. Não fiquei surpreendido por ele já lá estar, fiquei foi porque ao entrar na sala o bom do Fernando estava tal como veio ao mundo, sentado na carpete a pintar com um pincelinho e guache os "ovos", sim os "ovos"! Foi aí que se fez luz e percebi que afinal aquela "Caçada" iria ser bem mais animada do que eu tinha inicialmente imaginado.

Entrei, despi-me e perguntei ao Fernando "Queres pintar os meus?" ao que o sacana responde "Claro, pinto-te os ovinhos e o pintainho" e com a maior das delicadezas saca do pincel e das tintas e vai de fazer bolinhas e tirinhas nos meus "ovos". Em menos de nada já tinha chegado toda a gente e depois de todos terem decorado os seus "ovos" começou a caçada.

As regras eram simples, primeiro e de luz apagada três de nós tinham de encontrar o par de "ovos" que mais lhe agradasse, depois se a "Galinha" fosse do seu agrado podia divertir-se um pouco, ao sinal do Carlos voltava-mos ao ponto de partida e era a vez dos outros três. No fundo foi uma espécie do jogo do quarto escuro, mas esta versão era muito mais divertida.

Depois de termos todo "caçado" os "ovos" o Black sugeriu que o melhor era deixar-mos a luz acesa e fazer uma "omeleta". A ideia foi bem aceite por todos, eu peguei na "Galinha" do Fernando decidido a fazer "claras em castelo" e sem saber como vi-me envolvido num turbilhão de corpos e prazeres.

Lá pelas cinco da manhã, completamente esgotados, fomos dormir nos braços uns dos outros. Lembro-me de pensar que pena o Chicha não ter estado aqui.

Quase no fim das férias, o Chicha voltou, e vinha com um saco de caramelos.
Não comi nenhum. Infelizmente. Para ele que também não comeu da tal "omeleta".

4 comentários:

João Roque disse...

Há muito que ansiava por uma nova história tua...
Esta é bastante excitante; que bela adolescência deves ter passado...
Tenho muita pena que não possas estar no jantar mas ainda bem que é por esse motivo. Divirtam-se e amem-se!!!!
Abraços.

Anónimo disse...

A distância que vai entre o que as pessoas socialmente afirmam e o que fazem entre portas é sempre assombrosa. Imagino quais seriam as reacções se essa estória, em vez de ser aqui relatada (com um relativo anonimato)fosse partilhada com outras pessoas.

Que a educação sentimental da maioria dos homens portugueses foi feita com jogos sexuais entre amigos toda a gente sabe. Mas haver homens a admiti-lo é que não.

Obrigado por partilhá-la!

paulo disse...

amei de morte! além do apelo à imaginação, jogas muito bem com as palavras! admirável! e termina de um modo tão ternurento que deve ter sido um acontecimento, ou melhor, uma caçada das melhores, superior a qualquer quarto escuro: a omelete em grupo deve ter rendido...

abraço

Amaury Martin B. disse...

Great blog !